sexta-feira, 16 de junho de 2017

Temer balança mas não cai, para desespero dos roteiristas de 'House of Cards'

Os roteiristas de “House of Cards” têm toda razão quando admitem que a política brasileira é muito mais criativa do que a premiada série da TV americana. Realmente, não há comparação. A crise brasileira é completamente original, tem características singulares, e os cientistas políticos estrangeiros não conseguem acompanhar nem compreender. No Brasil, reina uma esculhambação institucional verdadeiramente sui generis, os três Poderes imaginados por Montesquieu apresentam alto grau de impunidade, de forma alguma podem ser considerados independentes e harmônicos, muito pelo contrário.

Como explicar que o Congresso brasileiro cassou o mandato de uma presidente da República, mas manteve os direitos políticos dela, apesar de ter sido eleita com caixa 2 de campanha, proveniente de dinheiro sujo, oriundo da corrupção pública e privada. E depois a presidente cassada e seu sucessor foram absolvidos na Justiça Eleitoral, apesar de existirem abundantes provas de caixa 2. Como um analista estrangeiro pode entender essa situação?


Na sequência da versão brasileira de “House of Cards”, o atual foi gravado por um megaempresário corrupto, no subsolo do palácio residencial, vejam que roteiro criativo, e até agora nada lhe aconteceu. A perícia da gravação ainda não foi concluída e novo capítulo traz o presidente sendo investigado pela Polícia Federal, que tem prazo até a segunda-feira, dia 19, para finalizar o inquérito.

No mesmo capítulo, o FBI tropicalista deve encerrar o caso que relaciona a presidente Temer ao chamado “homem da mala”, ex-deputado Rocha Loures. O suspense aumenta, de matar o Hitchcock, como diria o compositor Miguel Gustavo.

Realmente, os roteiristas de “House of Cards” não têm condições de competir com a trama que a política brasileira leva diariamente ao ar, ao vivo e a cores.

O mais curioso é que no enredo à brasileira o presidente é indestrutível, uma espécie de João Teimoso, que balança, mas não cai. As leis pouco importam, porque quem manda do país é o Mercado, que no tempo da ditadura militar os jornalistas chamavam de Sistema.

E a situação do Brasil ficou semelhante à da Bélgica, que recentemente passou quase dois anos sem governo (primeiro-ministro) e vida que segue, como dizia o João Saldanha.

Aqui na Tropicália, quem governa é Henrique Meirelles, que sempre sonhou em conquistar o poder pelo voto, jamais poderia imaginar que fosse alçado de outra maneira. Mas na vida o que vale é a prática e não a teoria.

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