quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O Brasil está morto! Viva o Brasil!


Marcada pela ambiguidade a cena foi uma síntese do momento brasileiro. No “banco dos réus” o ministro Meirelles e a PEC 241 de salvação dos 22,7 milhões de desempregados, subempregados e “desativados” pela explosão do déficit que paralisou o país constrangido a uma espécie de “autocrítica”; na “cátedra” à volta, toda a cúpula do Judiciário, um dos grandes detonadores dessa explosão, exigindo dele a reiteração da vassalagem ao conceito de “autonomia dos poderes“, versão pervertida do princípio de “independência dos poderes” nas democracias sem cuja retificação não será possível desapertar o garrote do pescoço dos miseráveis do Brasil.

Foi na sexta-feira, 14, no gabinete da presidente do STF, ministra Carmen Lucia, e estavam lá, além da imprensa, os presidentes do TSE, Gilmar Mendes; do STJ, Laurita Vaz; do Superior Tribunal do Trabalho, Ives Gandra Martins Filho; do Superior Tribunal Militar, William de Oliveira Barros e mais a Advogada Geral da União, Grace Maria Fernandes Mendonça. Mais de um entre eles fez questão de tomar posição a favor das reformas mas, como reagiam a um documento patrocinado pela Procuradoria Geral da Republica, pelo Tribunal de Contas da União e pelo Ministério Público assinado por vários juízes apedrejando a PEC 241 como “inconstitucional” e atentatória à sua versão de “democracia“, estavam entre a cruz e a caldeira. Botando panos quentes mas não sem, antes, reafirmar o “direito” dos privilegiados do Brasil aos privilégios que eles próprios se outorgam, inscrito na Constituição que ele está.

É um estranho interregno este que vivemos. É ilegal fazer justiça no país que a “Constituição dos Miseráveis” criou. Tudo nele é privilégio, discriminação e mentira e todo mundo sabe disso mas continua sendo proibido dizê-lo, sob as penas da lei que há, a escrita e a não escrita.

Em palestra recente a secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi, deu os últimos dados conhecidos da previdência pública, ainda de 2013. São 4,2 milhões, somados, os aposentados e pensionistas da União, dos estados e dos municípios. O déficit dessa conta correspondeu naquele ano a 3,8% do PIB. Aplicada a porcentagem ao PIB estimado para 2016, de R$ 6,2 tri, estaríamos falando de um rombo de R$ 237 bilhões. O déficit da conta dos 28,3 milhões de aposentados e pensionistas do resto do Brasil inteiro somados foi de R$ 85,8 bilhões no ano passado e de estimados R$ 148,7 bi este ano. 6,7 vezes menos gente custando 1,6 vezes mais dinheiro. Uma coisa multiplicada pela outra e temos que nós estamos valendo, na média, 10,7 vezes menos que eles.

Como chegamos a isso?

Raul Velloso, que assessora governadores do Sul e Sudeste para medir a catástrofe que têm nas mãos, conta que há nos estados e na União cinco “donos do orçamento” que, invocando a tal “autonomia“, “agem como se tivessem indulgência divina para gastar”. São eles – bingo! – o Legislativo, o Judiciário, os Tribunais de Contas, o Ministério Público e a Defensoria Pública. Nos estados esse grupo come sozinho 60% da receita líquida corrente, mas não é só. Junto com saúde e educação que também têm um pedaço do orçamento constitucionalmente garantido, ninguém nesses sete setores paga os direitos previdenciários de seus empregados. Saem contratando e empurram a conta para os tesouros estaduais que, por sua vez, não contabilizam essa despesa nas suas folhas de salário, o que faz da regra de ouro da Lei de Responsabilidade Fiscal (máximo de 49% das receitas para pessoal) letra morta. Para realmente “servir o público“, as migalhas e…o caríssimo dinheiro dos bancos. Assim cavado, o déficit atuarial das previdências estaduais está hoje acumulado em R$ 2,4 trilhões. Na União dá-se o mesmo; cinco “donos” mais alguns associados adicionais relativos aos “gastos sociais” levam a apropriação do orçamento federal a 80%.

O Estado é, porém, um péssimo distribuidor de riqueza também dentro das suas fronteiras. Os funcionários recebem, em média, aposentadorias de R$ 5.108,00 enquanto o brasileiro que pagou todas as contribuições só R$ 1.356,00. Mas também lá a grande maioria está abaixo da média. Ganham muito, mas muito mesmo, mediante as gambiarras de sempre, um milhãozinho de pessoas, se tanto. E quase todos, é claro, vêm das cinco corporações + dois “sócios” que são “donas” dos orçamentos públicos.

Nem o “teto” da PEC 241, que terá de ser alcançado esmagando a fatia “sem dono” (ou seja, nossa) dos orçamentos, nem as alterações até aqui mencionadas para a previdência de todos nós, conquanto também necessárias pelas razões sócio-demográficas que todo mundo aceita, serão capazes de por o Brasil de volta nos trilhos sem tocar nos privilégios desse milhãozinho de “marajás” a quem a tal “Constituição Cidadã” entregou o país bem amarrado.

A reunião acima descrita ilustra vivamente porque um governo interino só pode ir até onde já foi na discussão desse problema. Mas não havendo mais como estabilizar qualquer governo no poder com o Estado reduzido à incapacidade de pagar os seus protegidos todos de tanto que deve a tão poucos, um valor mais alto se alevanta. Daí estar “o impensável” acontecendo bem diante dos nossos olhos. É o PMDB quem maldisfarçadamente puxa a “denuncia” da mazela mais radical do “Sistema”. Não é mais a imprensa que trabalha para nos mostrar o que os governantes gostariam de esconder, são eles que conspiram para levá-la a revelar os fatos que, até aqui, pouco tem feito para expor inteiros. E isto porque sabe que a verdade sobre os números e, principalmente, sobre os personagens da pontinha mais dourada da “privilegiatura” da previdência pública é uma daquelas que não se suporta a si mesma. A sua mera exposição precipitará o desmoronamento do “Sistema”.

Esse Brasil das tetas desbragadas acabou. Não cabe mais em si mesmo nem no mundo. E quem contribuir por ação ou por omissão para prolongar e aprofundar a miséria que custa mantê-lo insepulto, não vai ter lugar no próximo que vem vindo aí.
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A panela, a cadeira e o microondas

Premido pela crise, demorei mais que o necessário para ver que algumas coisas em minha casa estavam caindo pelas tabelas. E fui comprar os itens que listei acima. Três das melhores marcas que conheço, para que fique bem claro que trabalho dobrado para tentar colocar em casa apetrechos com um pingo de dignidade na parada. A panela quebrou em três cozidas, a cadeira quebrou o suporte das rodinhas, me derrubando em pleno escritório falando com meu chefe pelo telefone, e o microondas ronca mais que um Trabant subindo a ladeira e queimando todo o óleo pelo caminho.

Três das melhores marcas do mercado, eu repito. Deem uma rápida olhada nas compras de supermercado do mês e vocês verão que o mais novo mimo do nosso “capitalismo, pero no mucho” é um selinho vermelho num canto da embalagem, afirmando que a mesma agora vem com 10% a menos de produto embutido nela. A lei agora permite isso. Um mimo, não é mesmo? Essa sucata em que transformaram a indústria nacional, apoiada na muleta calhorda do vigarismo estatal que campeou todo esse tempo por aqui, é o resultado de uma ideologia bamba com o mais completo descuido com qualquer planejamento, mérito, controle e eficiência.

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É o PT no poder. É o discurso safado de esquerda, que quando não vomita evacua na decência, como um bando de macacos acuados diante da evolução da espécie. Demorei para encontrar um Nêumanne, nos escombros do jornalismo de hoje, para dar às coisas os nomes que as coisas tem. Que bom que ainda existe um exemplar, no meio de tantos outros que professam mesmo é sua indignação com o savonarolismo da Lava Jato. O país mais corrupto do mundo, nu e com as calças arriadas, bradando que é vítima de uma perseguição seletiva. Não dá pra encarar, não é mesmo? Eu já vinha dizendo aqui mesmo que, como engenheiro que sou, sei bem os resultados de se fazer uma obra com a metade do cimento, para pagar propina. No mínimo, durará a metade do tempo.

Antes que alguém mande eu me benzer, afirmo categoricamente que estou sofrendo de Brasil. Um ajuntamento de vigaristas que tenta sobreviver, dando uma tunga no consumidor e usando materiais dos mais vagabundos em seus produtos. Teremos ou não uma “colaboração premiada” também neste quesito? Passou da hora do país repatriar também sua vergonha na cara, irremediavelmente perdida entre o socialismo de pinga que nos impuseram e a saudade marreta que essa gente ostenta de uma realidade que jamais se consumou, porque foi arquitetada para ser a fraude que é.

Essa gente não me engana. Se aquele escritor, andares abaixo, pedisse emprestado um liquidificador para uma prima dele, lá nos Estados Unidos, e esta lhe apresentasse um troço que mói até pedra britada, aposto que ele entenderia finalmente a diferença entre o socialismo barato que nós condescendemos em experimentar por aqui e o capitalismo de resultados práticos e aferíveis. Nunca antes tinha visto este país com olhos tão abertos. É um lixo. Obrigado, Nêumanne. Obrigado, Augusto. Tá difícil.

Para começar o dia

A indiferença de gênero

Toda vez que alguém afirma que, na escola, não pode existir diferença entre garotas e garotos e que, em sala de aula, o gênero não deve ser nem mencionado, Freud se vira e revira no túmulo e morre de vontade de fumar um charuto para se acalmar. Às vezes, um charuto é apenas um charuto. Às vezes, nem sempre. Negar o óbvio não resolverá o relacionamento entre o sexo masculino e o feminino, tampouco aumentará o respeito a homossexuais, transexuais, bissexuais e os mais de quarenta tipos sexuais diferentes.

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Para ilustrar a questão, recorro aos índios koguis, da Colômbia. Vivem na região caribenha de Santa Marta, no meio da selva amazônica, perto da Cidade Perdida, a gigantesca e desafiante ruína da civilização Tayrona, desaparecida há séculos. O Pico São Cristóvão, o mais alto da Colômbia, é o centro de seu universo.

Andei por lá, contatei alguns membros da tribo. São evasivos, desconfiados, calados. Não reconhecem a diferença de sexo entre meninos e meninas até os 10 ou 11 anos. Elas e eles se vestem com a mesma bata branca rente ao chão, não cortam o cabelo que lhes toca o ombro, brincam juntos, uns e outros muito parecidos fisicamente. Em seu paraíso tropical, as meninas são tão destras quanto os meninos para voar entre uma árvore e outra usando cipós. Nada de macho e fêmea, nenhuma discriminação, nenhuma disputa.

No entanto, assim que chega a puberdade, o quadro muda. Eles assumem o papel de machões e elas se tornam semiescravas. Esposas obedecem aos maridos às cegas. Muitos as castigam fisicamente, largam-nas em cômodos pouco confortáveis, não admitem que frequentem o templo central da aldeia ou abandonem a tribo. Uma delas, apaixonada por um guia turístico, foi caçada depois de fugir. Outra teria sido morta. O que faz uma situação de absoluta igualdade se transformar em desigualdade?

A resposta é a cultura. Apesar de toda a equiparação inicial, a sociedade no fundo pratica outros valores, tacitamente aceitos. É a tradição dos koguis, com a qual convivem há séculos. Para mim soa uma afronta, um ato inadmissível. Para eles, é a norma. Não devo julgar. Trata-se de uma questão antropológica.

Sempre houve e haverá diferença entre os sexos, mascarada na infância dos koguis. Entre nós, nas escolas, também há e esquecê-la tampouco evitará, no futuro, a discriminação e o preconceito, mantidos os atuais padrões de nosso convívio.

Para eliminar a absurda discriminação ou agressão à mulher, a sociedade como um todo precisa se preparar. A sala de aula é um ótimo ponto de partida. Custa muito mudar um preconceito centenário, aceito até por quem é prejudicado. Conheço mulheres que até hoje dispensam tratamento especial aos filhos homens. São mais machistas que eles. Jamais admitiriam, por exemplo, que fossem homossexuais.

Atitudes positivas e afirmativas também ajudariam a minorar o problema. Além disso, a lei deve prevalecer. Existem proteções legais contra os abusos. Estão em vigor. Se aplicadas, muitos problemas deixarão de existir.

No entanto, há um longo caminho até a igualdade entre os sexos e até a completa liberdade de opções sexuais. Assim como para a discriminação racial. A qualquer hesitação, encampamos a atitude dos kóguis, sem qualquer prurido antropológico. Aliás, no fundo, é a nossa tendência. Muitas gerações e muitos discursos nos levaram a esse comportamento. Até quando?

Luís Giffoni

Lula quer desmoralizar o Brasil

O herói faz agora o papel de vítima e é assim que doravante se apresentará na grande encenação para o público, daqui e do exterior, na qual o pérfido antagonista é a Justiça brasileira. Réu até agora em três processos que resultaram de investigações sobre corrupção – e na falta de sólidos argumentos de defesa –, Lula da Silva está armando um espetáculo circense para mostrar aos desavisados que o Mal cooptou a Justiça, que se empenha na missão abjeta de condenar um inocente, o homem “mais honesto do Brasil”, punindo-o pelo crime de governar para os pobres.


A politização dos processos judiciais em que Lula está envolvido como réu ou apenas investigado faz parte da estratégia concebida pelo lulopetismo, com a assessoria de uma chusma de advogados, para desviar a atenção da opinião pública das fortes evidências de envolvimento do ex-presidente da República e sua família numa série de episódios suspeitos nos quais se teriam beneficiado de tráfico de influência, de recebimento de vantagens materiais e financeiras indevidas ou pura e simplesmente de propina. Essa estratégia envolve também a tentativa de envolvimento dos brasileiros que ainda apoiam o ex-presidente num clima emocional alimentado por fantasiosas notícias sobre a iminente prisão de Lula. Na última segunda-feira, por exemplo, algumas dezenas de pessoas, munidas de farto material de propaganda impresso, postaram-se diante do apartamento de Lula em São Bernardo para uma “vigília cívica” contra a “ameaça iminente” da prisão do ex-presidente.

No dia seguinte, a Folha de S.Paulo publicou artigo assinado por Lula com o sugestivo título Por que querem me condenar. Começa por afirmar que, desde que ingressou na vida pública sua vida pessoal foi “permanentemente vasculhada”, mas “jamais encontraram um ato desonesto de minha parte”. Acrescenta: “Não posso me calar, porém, diante dos abusos cometidos por agentes do Estado que usam a lei como instrumento de perseguição política”. E explica: “Não é o Lula que pretendem condenar: é o projeto político que represento junto com milhões de brasileiros”. E conclui, dramaticamente: “O que me preocupa, e a todos os democratas, são as contínuas violações ao Estado de Direito”.

Os advogados de Lula, que tentaram em vão, várias vezes, contestar a autoridade e isenção dos magistrados responsáveis por processo em que o ex-presidente está envolvido, voltaram à carga interpelando o desembargador Gebran Neto, do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, relator dos recursos da Lava Jato, a quem acusam de ter “amizade íntima” com o juiz Sergio Moro. Segundo o ex-ministro Gilberto Carvalho, fiel escudeiro de Lula, essa nova iniciativa obedece “à ordem de não ficar calado”, num processo permanente de “questionamento” de tudo o que já foi ou vier a ser levantado contra Lula.

A até recentemente bem-sucedida trajetória política de Lula foi alavancada pelo marketing. E é com o marketing que ele pretende sair da grossa enrascada em que se meteu. Sem ter elementos concretos e convincentes de defesa, apresenta-se como vítima dos “inimigos do povo”.

Os acontecimentos desta semana revelam, portanto, que se pode esperar daqui para a frente a intensificação e maior contundência da contraofensiva lulista nas áreas judicial e popular. Pode até haver quem entenda que a prisão de Lula poderia favorecer a “causa”, na medida em que criaria uma “enorme comoção nacional” manipulável em benefício dos “interesses populares”. Quem conhece bem o ex-presidente sabe que esse tipo de sacrifício jamais lhe passaria pela cabeça. É claro, portanto, que a estratégia lulista contempla também a necessidade de manter formadores de opinião e detentores do poder considerados confiáveis no exterior providos de argumentos políticos que sejam úteis para a eventualidade de que se torne premente a necessidade de preservar a liberdade de Lula. Ou seja, condenado aqui, procuraria refúgio em regime amigo, apresentando-se, assim, como exilado político.

O homem está disposto a pagar qualquer preço por todas essas precauções. Inclusive o de tentar desmoralizar a Justiça e de apresentar o Brasil, aos olhos da opinião pública mundial, como uma reles ditadura. Mas esse ato de desespero lhe será cobrado pela consciência cívica do País.

Tá na Lava-Jato? Tá fora

Vamos imaginar a seguinte situação: você é ministro do governo Temer e sabe que está, digamos, envolvido nas tramoias da Lava-Jato e naquelas que levaram Eduardo Cunha à cadeia e possivelmente a uma delação premiada. O que fazer?

O dilema está colocado porque, falando em termos simples, quem meteu a mão no dinheiro ilegal sabe perfeitamente o que fez. A questão é: vão pegar ou não vão pegar?

Com a prisão de Cunha e a delação da Odebrecht, a probabilidade de ser apanhado aumentou, e muito.

Você, sendo ministro, tem a prerrogativa do fórum especial, ou seja, vai para o Supremo Tribunal Federal. Os ministros do STF ficam de bronca quando se diz que é uma vantagem sair da jurisdição de Curitiba e ir para a suprema de Brasília.

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Mas é uma vantagem. No mínimo, o STF demora mais para aceitar denúncia, abrir inquérito, processar, julgar, mandar para a cadeia. Além disso, o Supremo também não costuma decretar essas prisões preventivas que o juízes de primeira instância têm aplicado.

Por outro lado, pode-se dizer que demora, mas acaba sendo julgado. Tudo bem, mas o tempo ajuda aqui. Sabe como é: no turbilhão da Lava-Jato, com tanta gente mais importante sendo condenada e presa, pode haver alguma esperança de que se esqueçam de você. Ficando para o fim da fila já estaria bom, não é mesmo?

Então, caro ministro envolvido, o que fazer? Se agarrar na rapadura ou pedir demissão?

Se agarrando no cargo, o ministro cria um constrangimento enorme para o presidente Temer, seu governo e, claro, um obstáculo para o programa de reformas econômicas. O assunto corrupção/delação torna-se dominante, desmoraliza o governo, que vai passar o tempo todo se explicando.

Portanto, se quiser ajudar o presidente Temer, o ministro-que-se-sabe enrolado deveria renunciar. Limpa o caminho.

Aliás, todos os enrolados deveriam sair — e juntos, porque o primeiro que renunciar neste momento estará fazendo uma quase-confissão. Na verdade, mesmo saindo em bando, todos também estarão praticamente admitindo algum rolo, mas fazer o quê? Se não tem mais como virar o jogo. . .

Mesmo porque, se os caras não saírem, o presidente Temer, para manter a capacidade de administrar, vai ter que demitir os denunciados e/ou enrolados e/ou apanhados.

Verdade que Temer desqualificou recentes denúncias envolvendo seu pessoal mais próximo. São apenas alegações, disse.

Pois é, mas essas alegações se aproximam perigosamente da verdade. Em países como Japão e Alemanha, não tem nem conversa. Em situações como essa, aliás, em casos bem menos graves, a autoridade pede demissão, se desculpa e vai cuidar de sua defesa.

Aqui tem sido diferente — o sujeito nega até a última evidência. O problema é que essa evidência fica cada vez mais luminosa.

A regra de cair fora para não atrapalhar vale não apenas para ministros, mas para as demais autoridades, seja em que nível estiverem.

Se não caírem fora, Temer terá que arranjar um jeito de se livrar da turma, e logo.

Vejam, o ambiente econômico está claramente melhorando: inflação em queda sustentada, juros baixos no mundo todo, confiança em recuperação. Até a recessão, neste momento, é uma ajuda: com a atividade tão baixa, o Banco Central tem mais um poderoso argumento para uma “agressiva” queda dos juros. Já há especialistas prevendo que a taxa básica chegue ao final de 2017 na casa dos 9%.

Mas é parte essencial desse cenário o ajuste das contas públicas e as reformas que vão iniciar o longo trabalho de reconstrução da economia nacional. Ora, tudo isso depende do Congresso e, pois, da capacidade política do governo Temer de conduzir a votação das reformas.

Como poderá fazer isso um governo envolvido em Lava-Jato, Cunha, Odebrecht, delações sem fim?

Do mesmo modo, como o Congresso poderá votar essa pauta tão importante com tantos membros já apanhados e tantos outros por apanhar nas prováveis delações de Cunha e da Odebrtecht?

Tudo considerado, ficamos assim: ou se faz uma limpeza geral ou o governo e as reformas não andam. Difícil? Ok, mas quem for comandar as reformas não pode estar envolvido na Lava-Jato.

E já imagino a pergunta do leitor: e se o próprio Temer estiver envolvido?

Pois a história vale para ele também: será preciso arrumar um outro presidente, um outro governo. Nesse caso, o último serviço útil de Temer seria o de ajudar nessa transição.

Carlos Alberto Sardenberg

Imagem do Dia

Berry College water wheel in Mount Berry, Georgia • photo: Randy Clegg:
Mount Berry, Georgia (EUA)

Podemos deixar o palanque para a rua e ir além do discurso rasteiro

Vai-se tornando quase (mau) hábito falar mal da política, sobretudo dos políticos, como se fossem eles os únicos e verdadeiros responsáveis por nossos males. Milhões de brasileiros, além de descerem a borduna indistintamente em todos eles, comemoram a morte ou, então, a ameaça de morte de qualquer partido político, mas, principal e precocemente, a do Partido dos Trabalhadores, como se fosse ele o único e verdadeiro responsável pela crise que vive a democracia representativa, não só aqui, no Brasil, mas no mundo todo. Ou seja: a sociedade, em geral, não é responsável por nada, nem mesmo pelas pequenas mazelas. Pois essa é, também, tarefa do Estado.

Essa crítica feroz, feita à matroca, nunca expõe quem a faz. Esse, claro, se considera acima do bem e do mal – ou ser inatingível pelo erro, ou pela transgressão. Que não se lembra de que, como disse a escritora e jornalista Ana Maria Machado, em seu artigo no jornal “O Globo” do último domingo, “se quisermos ajudar o Brasil a ser mais democrático e a diminuir as desigualdades, cada um de nós precisa conversar mais, ouvir mais, abandonar a preguiça de pensar, acolher em si diferentes pontos de vista. Isto é, se acharmos que podemos deixar o palanque para a rua e ir além do discurso rasteiro e do deboche”.

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Quase ninguém, com raríssimas exceções (refiro-me àqueles com quem lido com maior frequência), se dispõe a fazer um exame de consciência a respeito de seu julgamento, muitas vezes injusto. Não passa nem de longe por sua cabeça que tanto partidos quanto políticos só chegaram ao poder, no Legislativo e no Executivo (municipal, estadual e federal), por nossas mãos, isto é, tendo em vista nossos “rígidos critérios éticos”, que nunca falham, pois somos infalíveis.

Em certas rodas, sobretudo naquelas em que o dinheiro nunca falta, chega a ser chique falar mal da política, dos partidos, dos políticos em geral e, também, de nossas tristes mazelas, que nunca são vistas ou reconhecidas como consequência de nossas omissões ou escolhas.

Sobre a PEC 241, tenho ouvido o diabo. Para alguns, aliás, é o próprio, embora travestido do bem. As críticas, porém, são quase sempre improcedentes ou ideológicas. Há quem a compare ao Plano Collor, cuja inspiradora (ou apenas coordenadora) foi a ex-ministra Zélia Cardoso de Melo, atualmente exilada por vontade própria. E há quem diga que as já precárias saúde e educação, por falta de verba, simplesmente desaparecerão do mapa. Viveremos, de fato, o inferno.

Já afirmei e afirmo de novo, leitor: a PEC 241, que estabelece o teto dos gastos públicos, por si só, valerá pouco (ou se transformará numa grande decepção, ou num enorme desastre), se não vier acompanhada de outras reformas, também inadiáveis, mas, sobretudo, de uma gestão corajosa e eficiente, com vista à “destruição” de um Estado paquidérmico, que não nasceu agora, mas que precisa ser enfrentado o quanto antes. Para mim, a importância dessa PEC se torna mais necessária e até indispensável quando constato que, contra ela, se insurgem poderosos grupos corporativos que só pensam em seu bolso.

Não sou (dirijo-me a um de meus poucos leitores) um entusiasta do governo Temer, mas insisto em acreditar que ele não tem outra saída senão agir certo para conduzir nosso país até 2018, ocasião em que – assim espero – surja alguém neste deserto de homens (ou de agentes públicos) enfim voltado, por dever de ofício, ao bem comum.

Vamos cair já na real, minha gente!

Cabeça é para se usar

Mente Aberta:  
A verdadeira revolução não é a revolução nas ruas, mas na maneira revolucionária de pensar
Charles Maurras

Do PT ao PT do B

O ex-presidente Lula não visou o grande público em seu artigo “porque querem me condenar”, publicado em jornal de circulação nacional. A essa altura do campeonato, o caudilho tem plena consciência de que suas palavras são inúteis para mudar a convicção dos brasileiros quanto às suas responsabilidades nos delitos praticados em seu governo e por seu partido.

Ele usou o jornal para falar com as fileiras internas do Partido dos Trabalhadores, engalfinhadas em uma guerra intestina; com tudo para desaguar no desmanche do PT.

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Desde o resultado das urnas o Partido dos Trabalhadores entrou em estado de liquefação. Enquanto sua cúpula brinca de avestruz e empurra a crise com a barriga, a avalanche vai se formando.

Impossível detê-la com o apelo à unidade, em nome da “defesa de Lula”, ou com vigílias em frente do prédio onde mora o ex-presidente, para evitar sua suposta “prisão iminente”.

O real é o ultimato dado por um grupo expressivo de parlamentares para que até o início de dezembro seja convocado o congresso partidário e para a antecipação das eleições internas.

Os parlamentares, claro, miram em 2018, sabem ser mínimas suas chances de reeleição por uma legenda que acabou de ser escorraçada das urnas.

A pressão por mudanças vem também das tendências mais à esquerda, que vão direto na jugular de Ruy Falcão, presidente nacional do partido, e de outros dirigentes vinculados à tendência majoritária “Construindo um Novo Brasil”.

O PT hoje é uma nau à deriva, na qual sua tripulação, ou parte dela, se indaga se já não é hora de se jogar no mar e se agarrar em alguma tábua de salvação.

Essa boia pode ser a proposta de uma “frente ampla”, ou melhor, uma frente de esquerda, um contorcionismo de petistas para driblar sua crise.

Nada a ver com a “Frente Amplio” do Uruguai, construída por meio de um longo processo, iniciado em 1971, e no poder há 15 anos. Aqui seria uma cortina de fumaça onde o PT se esconderia dos eleitores em 2018, face à sua queimação ampla, geral e irrestrita.

E como se daria essa “frente ampla”? Por meio de uma fusão com outras legendas? Quem irá querer se fundir com o PT, ou mesmo se coligar com ele, na próxima disputa presidencial? E o candidato desta frente, digamos Ciro Gomes, faria a defesa em seu palanque dos governos Dilma e Lula?

Uma “frente de esquerda” para 2018 é uma ideia natimorta. Todo mundo quer distância do PT, a começar pelo PSOL, que, bem ou mal, concorde-se ou não com suas ideias, conquistou um lugar ao sol, sem nenhum trocadilho.

O PSOL aposta na polarização ideológica, em ser o reverso da medalha do deputado e pré-candidato pelo PSC, Jair Bolsonaro, na próxima disputa presidencial. Não vai se diluir numa frente.

Mesmo o PDT de Ciro Gomes, um caleidoscópio ideológico, pensará duas vezes se aceita, ou não, a composição com o PT; se isto agrega votos ou se lhe condena a uma derrota.

No PT, só há um consenso: o de que não há consensos. Daí cada cabeça ser uma sentença entre seus parlamentares. Para uns, a salvação está em criar uma nova legenda, tarefa nada fácil se o horizonte for ser competitivo nas eleições de 2018.

Sair agora a campo para construir um novo partido pode ser uma enorme aventura. Mas ficar no Partido dos Trabalhadores provavelmente será o caminho mais rápido para a não reeleição.

Político que se preza, pensa, antes de tudo, na sua sobrevivência. Não será diferente com os parlamentares petistas. Provavelmente percorrerão o caminho mais seguro, a revoada para outras legendas para ter tempo de TV e acesso ao fundo partidário. Pode até ser uma dessas legendas de aluguel disponíveis no mercado.

Quem diria, o desmanche do PT pode escoar no PT do B. Vá explicar para os eleitores que são coisas diferentes...

Algo vai acontecer

O “Sistema Único de Saúde é inviável!” proclamam aqueles que desde a degola de Dilma Rousseff e do PT passaram a contestar a Constituição de 1988. Empenhados em suprimir o elenco de direitos tidos até agora como imprescindíveis, os novos donos do poder lançaram-se na campanha pelo retorno de seus privilégios e a extinção das prerrogativas das massas. Insurgem-se diante do tratamento médico gratuito para quem não possa pagá-lo, condenando os pobres à miséria e os ricos à indiferença.

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Do corte de direitos sociais à supressão de pensões e aposentadorias, do aumento de impostos ao abandono das maiorias carentes e ao desemprego crescente, desenham um novo Brasil rachado ao meio. Ainda agora estão beneficiando quantos enviaram dinheiro roubado para o exterior e hoje poderão repatriá-lo sem maiores punições.

Em tempo rápido o governo Michel Temer vai revogando conquistas sociais que levaram décadas para ser implantadas. O triste é que a sociedade não reage, ou reage muito pouco. O trabalhador deixa de ganhar as ruas, preocupado em reconquistar o emprego perdido, mesmo às custas de redução salarial. A classe média fecha os olhos e as elites ampliam reivindicações e benesses.

Enquanto isso, multiplicam-se as apreensões. Alguma coisa vai acontecer, mesmo ignorando-se quando e como. Pode ser amanhã. Até hoje.