sábado, 23 de julho de 2016

Charge do dia 23/07/2016

Os frutos da democracia

O governo liberou quarta-feira os aumentos do Poder Judiciário acima de 41%. Primus inter pares porque é lá que se dizem os “sins’” e os “nãos” que confirmam ou anulam tudo que os outros poderes decidem, os “meritíssimos” recebem antes de todos os demais o seu pedaço do pacote de aumento do funcionalismo que, bem no meio da mais cruel crise já vivida pelo resto do Brasil, tomou mais R$ 60 bilhões da economia moribunda para garantir que as “excelências”, seus nomeados e os nomeados de seus nomeados continuem dormindo em paz no meio do pânico que grassa aqui fora.

No STF, que “dá o teto” para o salário de todo o setor público, o “por dentro” salta de R$ 33,7 mil para 39,2 mil, 16,3% a mais. É claro; todo mundo sabe que não ha um único juiz no Brasil, que dirá os do STF, que realmente vive com essa “mixaria”. Não ha cálculos publicados sobre quanto valem todos os “auxílios” e mordomias que lhes pagamos e são chamados de todos os nomes menos “salário” para que a Receita Federal que nos esfola a partir de pouco mais de dois salários mínimos se sinta juridicamente autorizada a tirar candidamente os olhos de cima deles. Por uma distração do “Sistema” na recente luta para expelir esse Eduardo Cunha que desafiou sua hierarquia interna, o país ficou sabendo, por exemplo, que o presidente da Câmara dos Deputados, computados todos os jatos, automóveis, pilotos, motoristas, combustível, hotéis, o “chef” e os tres auxiliares de cozinha, as empregadas e “valets de chambre”, os “auxílios” moradia, escola de filho, assistência médica, paletó, dentista, barbearia e o que mais se imaginar, ganha na verdade a bagatela de R$ 500 mil por mês.

Somente os R$ 60 bi que vão custar esse ultimo aumento nominal – veja bem, não estamos falando da folha de pagamentos da União mas só de quanto ela vai aumentar enquanto você se afoga – poderiam pagar 33,8 milhões de vezes o salário médio do Brasil que, em 2016, chegou a R$ 1.776, ou 68 milhões de salários mínimos de R$ 880. E no entanto, notícias como essas são dadas pelos eruditos do colunismo social da Côrte em que se transfomaram os jornalistas políticos do Brasil, quase como uma vírgula em meio às elucubrações sobre as minúcias dos passes e transações entre partidos e chefes de partidos de que o país real não sabe sequer os nomes para decidir quem vai ficar com que pedaço da pele dele. Faz-se um mero registro desacompanhado de qualquer cálculo, comparação ou reportagem sobre como é a vida dos habitantes desse mundo inimaginavel para a multidão dos brasileiros das periferias “de bloco” que espera em obsequioso silêncio, imobilizada, que as “excelências” se resolvam.

Nesta ultima safra, registrou-se burocraticamente que o governo provisório que confirmou esses aumentos foi constrangido a faze-lo porque se ousasse sequer discutir o assunto a máfia travava de vez o país e acabava de matá-lo. Feito o parentese, com essa ameaça de quase genocídio apenas sugerida, volta-se ao infindável ti-ti-ti da Corte…

Essa nossa constituição que vive sendo saudada aos quatro ventos como “democrática” é o avesso disso. Não passa de um vasto compêndio das exceções ao império da lei e dos privilégios garantidos a uns e negados a outros que abrange virtualmente todos os aspectos da vida e todas as categorias de brasileiros para garantir que nenhum possa se queixar a partir de uma posição moral não comprometida, mas que estabelece uma rígida hierarquia na privilegiatura que regulamenta até a menor das minúcias. O resultado é, sem tirar nem por, um sistema feudal em que “o rei” nomeia os seus barões e outras “nobrezas menores” que, por sua vez, criam as clientelas que “protegem”, tudo na base da distribuição de dinheiros que não são eles que produzem a quem fica dispensado de fazer por merece-lo.

Igualdade perante a lei; 1 homem, 1 voto; o direito de cada um decidir o que é melhor para si nas relações de trabalho; a proibição da representação que não seja teleguiada pelo Estado (fundo partidário, imposto sindical, etc.), nenhum dos fundamentos que definem “Democracia”, enfim, está presente neste Brasil do “regulamentismo absolutista”.

O brasileiro vive se flagelando achando que é o povo mais corrupto do mundo mas esta é só mais uma das mentiras que lhe intrujam. No mundo inteiro, em tudo que o Estado entra, rouba-se. O problema é que no Brasil o Estado entra em tudo apenas e tão somente porque se quer roubar em tudo e isso continua sendo possível aqui. No resto do mundo, não existe mais essa discussão. Não é de Estado mínimo ou máximo mas de roubalheira mínima ou máxima que se trata. Para o Estado deixa-se apenas o que não se pode evitar de deixar, porque o que for deixado será inevitavelmente roubado e ha que por essa inexorabilidade na balança. Leis anti-corrupção, por melhores que sejam, são pra enxugar gelo e os esquemas organizados para negar isso pelos que vivem do Estado são ululantemente mentirosos. Todo mundo sabe disso. Não ha exceção de Azerbaidjão a Zaire.

No meio do desemprego e da quebradeira geral, um país acostumado a ser cavalgado busca desesperadamente uma esprança em que se agarrar. Mas desanima o fato de discussões encerradas no mundo todo não terem sequer começado por aqui. É deprimente entender, antes da partida para mais uma jornada de recuperação de prejuízos, que mais uma geração de brasileiros terá o seu acesso à modernidade barrada porque insistimos na roda quadrada.

O Brasil fica sonhando com colheitas mas o fim da miséria, a prosperidade, a paz social são frutos da democracia e é preciso antes adotá-la para poder colhê-los. Enquanto não sairmos do colunismo social da Corte para a cobertura intensiva, gráfica e subversiva do custo social da Côrte; enquanto não começarmos, não apenas a dizer, mas a bradar em fúria que não ha salário para nós porque ha salário demais para eles; enquanto não houver uma só lei para todos nós só colheremos mais do que já temos colhido.

Dilma, tão honesta quanto Lula

A presidente Dilma Rousseff empenhou-se em seus cinco anos e poucos meses de governo em se distinguir de Lula em pelo menos uma coisa: ela sempre foi honesta. Nunca disse que Lula fora desonesto. Mas reafirmou sua honestidade todas as vezes que a de Lula foi posta em dúvida.

Pois bem: o depoimento ao juiz Sérgio Moro do marqueteiro da segunda campanha de Lula à presidência da República e das duas campanhas de Dilma, João Santana Filho, mostrou que a honestidade de Dilma em nada fica a dever à honestidade de Lula.

O que disse Lula quando perguntando sobre o mensalão em 2005? Que ele não sabia, não sabia mesmo que uma “sofisticada organização criminosa que tentou se apoderar do aparelho do Estado” pagava a deputados federais para que votassem como mandava o governo.

João Santana Filho, tão logo foi preso pela Lava-Jato, negou que tivesse recebido dinheiro no exterior pela campanha de Dilma em 2010. Atribuiu o que recebera a campanhas que fizera em outros países. Anteontem, finalmente, confessou que mentira. E que recebera dinheiro, sim.




Como Dilma reagiu? Primeiro, calou-se. Obrigada a comentar a comentar a confissão do marqueteiro, afirmou desconhecer que despesas de sua campanha haviam sido pagas no exterior. Não, nunca soubera. Certamente fora tão enganada como Lula no caso do mensalão.

Lula nomeou para Petrobras executivos que depois saquearam a empresa, pagaram propinas a políticos de vários partidos e desviaram dinheiro para o PT. Ele já disse que nada teve a ver com isso, que as nomeações se deveram a indicações feitas por partidos. É inocente, puro.

Se Lula nada teve a ver com isso, muito menos Dilma, como ela sempre fez questão de repetir. Os nomeados por Lula administraram a Petrobras enquanto Dilma foi ministra das Minas e Energia, presidente do Conselho de Administração da empresa e depois presidente da República.

Difícil acreditar que tivemos dois presidentes seguidos que ignoravam completamente que se passava ao seu redor. Que jamais ouviram falar em pagamentos ilegais feitos no exterior ao responsável por suas campanhas. Tampouco ouviram falar do assalto à Petrobras.

A ser verdade o que disseram deveriam ser punidos por improbidade administrativa, irresponsabilidade e desleixo. Somente crianças e índios são inimputáveis. Presidente da República não é.

O tempo como adversário

O empenho do PT em protelar o desfecho do impeachment, coadjuvado por manobras ritualísticas patrocinadas pelo STF, está saindo pela culatra. O partido apostou no desgaste de Michel Temer, na impossibilidade de apresentar bons resultados em curto prazo.

De fato, não se reverte instantaneamente um quadro de caos econômico, como o legado pelo PT, nem é possível fazê-lo sem medidas impopulares. O novo presidente estaria, portanto, fadado ao insucesso, o que abriria espaço para o retorno da velha (des)ordem.

Faltou, porém, considerar um detalhe: a Lava Jato. Enquanto o Senado consumia semanas repetindo o rito já aprovado na Câmara – a admissibilidade do processo -, e na sequência ouvindo nada menos que 40 testemunhas, a turma de Curitiba colhia mais e mais delações comprometedoras, que viriam (estão vindo) à tona antes da votação final. O tempo, ao contrário do desejado, trabalha contra.

Estão em curso, entre outras, delações da diretoria da Odebrecht, que confirmam a origem criminosa de recursos eleitorais e não eleitorais, envolvendo Lula e a própria Dilma, pela primeira vez citada diretamente – e pelo próprio dono da empresa. A íntegra dessas delações ainda virá à tona, mas a prévia já é demolidora.

Esta semana, mais uma bomba veio de Curitiba: o depoimento do casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura. Eles confirmaram ter recebido 4,5 milhões de dólares, de caixa dois, da campanha de Dilma. A confissão somou-se à do operador Zwi Skornicki, de que se tratava de dinheiro roubado da Petrobras, pago a pedido do então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

Pior: estava depositado em conta no exterior. Bastam esses dois fatos, capitulados como crimes pela legislação eleitoral, para que o próprio registro partidário do PT seja cassado.

Dilma, como responsável pela campanha, pode até alegar que não sabia (inclusive, já o fez), mas não adiantará nada. A lei é implacável: o candidato é responsável pela campanha. O ex-senador Eduardo Azeredo, candidato tucano ao governo de Minas em 1998, fez a mesma alegação, diante de fatos análogos, e foi condenado a 20 anos de prisão – aliás, sob os aplausos do PT.

A diferença é que Azeredo foi derrotado e Dilma elegeu-se. O caso dele, portanto, esgotou-se nele. Já o caso Dilma a pega no curso do mandato, interrompido por razões bem mais amenas, e terá repercussão na votação final do impeachment.

O processo no Senado, graças a Eduardo Cunha, atém-se a delitos apenas administrativos, os tais crimes de responsabilidade. Mas o prontuário, como as delações premiadas e a Lava Jato têm mostrado, é bem maior e invade a esfera do Código Penal.

Cunha poupou a presidente do pior – não por amor, é claro, mas por medo de alguma bala perdida o atingir. Afinal, foi parceiro, ainda que menor, na rapina da Petrobras.

Escolheu o pedido de impeachment mais brando, mas é improvável que os senadores deixem de considerar o conjunto da obra na hora de votar. Os ainda indecisos (se é que os há) dificilmente ousarão afrontar os fatos, de pleno conhecimento do público, na hora de definir seu voto, que será aberto e transmitido pela TV. O julgamento será no final de agosto, lá pelo dia 26.

Até lá, novas delações virão à tona, novas prisões devem ocorrer, não se excluindo a hipótese da do próprio Lula.

Outro efeito colateral adverso do adiamento do impeachment são as eleições de outubro, que este ano terão praticamente um mês apenas de campanha. A dura exposição da administração petista, sobretudo a ilegalidade de algumas de suas práticas, irão repercutir fortemente no eleitorado.

O recurso terrorista ao fim do Bolsa Família, na hipótese de vitória do adversário, já não terá a eficácia de antes. Ele mudou de mãos – e Temer, não obstante os conselhos de sua equipe econômica, acaba de conceder-lhe aumento de 12,5%.

O único risco que Temer corre deriva dele próprio, se insistir em nomear para sua equipe gente carimbada por atos praticados na gestão de sua antecessora.

Ação da Abin contra terrorismo é arriscadíssima e pode provocar retaliações

A espalhafatosa operação do Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para evitar atos de terrorismo na Olimpíada é altamente polêmica e controversa. Os dez suspeitos presos nesta quinta-feira são claramente amadores, com baixa capacidade de organização e execução. Lembrando o genial filósofo Aristóteles, que há 2,3 mil anos já ensinava que “o bom senso é elemento central da conduta ética, uma capacidade virtuosa de achar o meio-termo e distinguir a ação correta”, pode-se dizer que, no caso do terrorismo tropical, o bom senso indicava que a estratégia mais apropriada seria simplesmente monitorar os suspeitos 24 horas por dia.

Com esse cuidado, seria evitada a concretização de atentados e seus frustrados autores poderiam ser presos em flagrante, tudo isso sem causar pânico nem marcar presença na escandalosa mídia internacional, que está esvaziando o grande evento.

Na verdade, o que a mídia tem passado para o resto do mundo é que a Olimpíada no Rio de Janeiro representa um risco crescente em termos de saúde, organização e segurança, esta é a indesmentível realidade.

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Primeiro, surgiram as ameças de zika, dengue, chicungunha e gripe H1N1. Depois, o atraso nas obras, a queda da ciclovia. Para agravar a crise, o incompetente governador em exercício Francisco Dornelles baixou o decreto da “calamidade pública”, provocando a devolução de 50 mil ingressos já comprados para os jogos. E para culminar, o prefeito Eduardo Paes passou a dar seguidas entrevistas dizendo que não há segurança na cidade e a Olimpíada é uma “oportunidade perdida”.

Em tradução simultânea, pode-se dizer que o Rio de Janeiro nem precisa de inimigos, porque seus próprios governantes se encarregam de destruir a imagem da cidade. E o fazem com um impressionante empenho.
Na chamada undécima hora, enfim apareceu um político de gabarito para defender a cidade, embora seja tarde demais, o mal já está feito. Em discurso a militares que irão compor as forças de segurança durante a Olimpíada no Rio de Janeiro, na sexta-feira, o ministro da Defesa Raul Jungmann criticou a “paranóia exacerbada pré-Olimpíada”. Voltou a afirmar que não há qualquer “ameaça consistente” de ação durante os Jogos, destacando que as Forças Armadas terão 22 mil militares no Rio durante evento, além dos efetivos da Polícia Militar, da Polícia Civil e da Guarda Municipal.

Ressalve-se que Jungmann é um homem honrado, que está há décadas na política, já foi ministro duas vezes e não enriqueceu ilicitamente. Pelo contrário, sua declaração de renda revela que não tem casa própria, paga aluguel e seu único bem é um automóvel. Justamente por isso, merece ser ouvido com especial atenção.

Ao lançar essa operação escalafobética, as forças de segurança, sob o comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) , partiram do princípio de que essa iniciativa desestimulará quaisquer outros atos de terrorismo. Pode ser até que isso ocorra, mas é preciso raciocinar que se trata de fanáticos religiosos que não ligam para a vida. Pelo contrário, os islamistas têm prazer em morrer pela guerra santa, para encontrar a felicidade eterna. E se multiplicam como coelhos, quando se prende um deles, logo aparecem outros para substituí-lo.

Nesse quadro real, promover operações hollywoodianas para prendê-los com base na lei antiterrorismo, mas sem flagrante delito da tentativa de atentado (ou seja, por mero crime de opinião), não somente dificulta a acusação pelo Ministério Público, como também pode despertar, ainda mais, a ira dos mais fanáticos. É aí que mora o perigo.

'Não queria destruir a presidente Dilma'

O publicitário João Santana queria proteger Dilma Rousseff. Compreensível. Afinal, sua cliente já tinha pago US$ 4,5 milhões por fora a ele, o mago das campanhas enganosas do PT. Seu roteiro na TV havia pintado o Brasil de rosa, azul e o escambau. “Eu que ajudei, de certa forma, a eleição dela, não seria a pessoa que iria destruir a presidente”, disse enfim João Santana em depoimento ao juiz Sergio Moro.

Por que sua delação a destruiria? Porque apenas começava o processo de impeachment quando o publicitário e sua mulher, Mônica Moura, foram detidos. E porque esses milhões de dólares não eram apenas caixa dois. Tinham sido pagos por um lobista, em conta não declarada na Suíça, e sua origem era criminosa. Os milhões de dólares vinham de propinas em contratos da Petrobras.

Marqueteiro joao santana admitiu o uso de caixa 2 na campanha de dilma terror tv sergio moro susto medo panico

Segundo a Lava Jato, esse pagamento à propaganda política de Dilma foi desviado de um contrato fechado por um estaleiro para construir uma plataforma. Nem vou listar aqui todos os coadjuvantes porque ninguém mais consegue acompanhar o novelo de nomes e números, dignos de uma saga de Gabriel García Márquez. O que importa é: o mago caiu, a mulher do mago também, e ambos mentiram para proteger Dilma e a própria pele. Agora, caíram na real e tentam passar a imagem de bonzinhos e leais.

Antes de mentir para proteger Dilma, João Santana usou seu talento de publicitário para pintar a presidente como alguém que ela nunca foi, pintar a realidade brasileira de cores que escondessem a cor de burro quando foge e, assim, mentir ao eleitorado. Publicidade sem compromisso com a realidade deveria ser crime. Mas é, não é? Na televisão, o país editado por efeitos especiais é escandaloso. Num Brasil que lê pouco, por falta de instrução e de hábito, e onde o voto é compulsório, a tal propaganda política “gratuita” deveria ser sujeita a um crivo rigoroso para ir ao ar.

Não se trata de uma caça macarthista aos publicitários. Os clientes mandam, eles fazem. É só isso? Não. No caso de políticos, eles recriam os personagens, os cenários. Eles inventam. Eles convencem. Eles mostram como manipular o voto. Não consigo achar nada disso ético. E, ainda por cima, ganham uma fortuna, em dólares, que escondem fora do país. João Santana se arrepende.

Embora não tenha admitido conivência com “uma trapaça”, como perguntou Moro, o publicitário agora se penitencia. Receber pagamento no caixa dois ou “por fora” é sim, segundo João Santana após refletir na prisão, um “constrangimento profundo”, “um risco”, “um ato ilegal”. Um crime, não é mesmo? Chamando as coisas pelo nome. Só que era difícil para o PT de Dilma anunciar publicamente quanto estava pagando a seu “construtor de imagem” para vencer a eleição.

No início, João Santana e a mulher, aquela mesma que sorriu mascando chiclete ao ser presa, em atitude debochada, combinaram dizer aos investigadores que esses milhões de dólares eram de campanhas eleitorais feitas no exterior. Queriam evitar o que chamaram de “um grave problema” para Dilma, a honesta como nunca antes na história. Aquela por quem os militantes cegos botam a mão no fogo, a que não cometeu nenhum crime, a mãe dos deserdados, dos sem-­teto, dos famintos – alguém ainda alardeia isso por convicção, sem ganhar milhões de patrocínio em troca?

João Santana acha que foi apanhado como bode expiatório. Denuncia a hipocrisia que crucifica a ele e a mulher, num país em que, segundo o publicitário, 98% das campanhas políticas no Brasil usam caixa dois. Por que só o casal está preso por isso? “Eu tinha consciência de uma prática ilegal. Dinheiro sujo, jamais. Caixa dois não é necessariamente caso de corrupção”, disse Santana ao juiz Moro. Na hora de eleição, sem vigilância apropriada, “ou faz a campanha dessa forma ou não se faz”.

Caixa dois é prática disseminada não só entre políticos, mas em “todas as camadas sociais e dezenas de profissões que recebem por fora”, disse João Santana. Aí sim. É a pura verdade. O publicitário bota o dedo numa ferida gigantesca. “A fila poderia ser fotografada de satélite”, afirmou o ex-mago do PT. “Iria de Brasília a Manaus.” Em campanhas políticas eleitorais, porém, é difícil o caixa dois ser imaculado. João Santana não é iniciante nem ingênuo. Deveria saber desse detalhe ou nem se importar com a origem.

Oficialmente, o PT pagou R$ 170 milhões em campanhas entre 2006 e 2014. Se pagou milhões de dólares por fora, é porque não podia declarar. Se não podia declarar, é porque era sujo. O desvio do desvio do desvio. Mas Dilma não cometeu nenhum crime. Não sabia de nada. Tampouco sabia Lula, aliás líder, segundo as pesquisas do Datafolha, nas intenções de voto no primeiro turno da eleição presidencial de 2018. Quem será o mago do PT nessa disputa? Foram todos presos. Viraram delatores e traidores.

Revista turbinada em aeroportos tem efeitos duvidosos

Um de meus vieses humanos favoritos é a ilusão de controle —a tendência de superestimar nossa capacidade de comandar o curso dos acontecimentos. É uma característica particularmente interessante de nossa espécie porque, apesar de nos impelir a uma avaliação objetivamente errada da realidade, em muitas situações produz consequências positivas, ao fazer com que perseveremos em vez de desistir à primeira dificuldade.

A fiscalização reforçada nos aeroportos, que o Brasil resolveu expandir para voos domésticos às vésperas da Rio-2016, me parece uma resposta mais em linha com nossa vontade de estar no controle do que com os ditames de eficácia. A maioria de nós não pensa duas vezes antes de apoiar esse tipo de medida, que, afinal, visa a nos manter vivos e em um único pedaço, como é conveniente. O problema é que não dá para pensar esse tipo de questão em termos absolutos. Tudo em sociedade é uma solução de compromisso entre o ideal e as necessidades práticas. Quantas horas-passageiro a mais na fila estamos dispostos a aguentar para evitar um ataque? E será que a revista rigorosa frustra mesmo atentados?

Iotti: muito perigoso Iotti/Agencia RBS

Para alguns especialistas, seu efeito mais notável é deslocar o local do ataque. Em vez de ocorrer a bordo do avião, ele acontece no saguão, como vimos em Istambul e Bruxelas. E por que limitar-se ao setor aéreo? Se as coisas ficam difíceis nos aeroportos, é possível mudar para alvos mais fáceis, como transportes de massa (Madrid, Londres), lugares de diversão pública (Orlando, Paris) ou mesmo aglomerações (Nice). Obviamente, não dá para revistar cada indivíduo que entra no metrô ou vai para a rua.

A melhor estratégia para evitar ataques ainda é o monitoramento de suspeitos por serviços de inteligência, que está longe de infalível. A verdade, por mais depressivo que seja reconhecê-lo, é que, fora da esfera do marketing, nosso controle é mais limitado do que imaginamos.

A nação precisa de um tempo para se refazer do legado lulopetista

Aos poucos, vão sendo recolhidos os escombros deixados pelo lulopetismo, que pode retornar. Um dos males está na reeleição, tal como implantada no Brasil. Ao menos, que se adotasse o critério norte-americano: quem, por dois mandatos, recebeu a maior honraria nacional deve afastar-se para sempre da luta política para servir de reserva do país, numa espécie de conselho informal da nação, nos momentos mais difíceis de sua caminhada histórica.

Aliás, nem mesmo o regime militar cogitou da reeleição, no interesse próprio de não provocar uma ruptura, no âmbito das ambições presidenciais, e, afinal, cair no cisma e na própria derrubada. Logo, do ponto de vista do proveito da aliança militar-tecnocrática-empresarial, que abominava a democracia representativa e o Estado de direito, havia coerência no repúdio à reeleição. Naquele esquema, essa peça, conquanto ameaçasse o pacto, costumava aflorar, sob o argumento de endurecer ainda mais o regime estabelecido.

Ademais, sabiamente os norte-americanos mostraram-se prudentes em analisar as distorções suscitadas pelo instituto da reeleição, sem limite no tempo, mesmo para um povo amadurecido pela dinâmica de uma democracia política já praticada há muito tempo. Quando o grande presidente Roosevelt recebeu o quarto mandato, as lideranças congressuais, assustadas com o fato, embora justificado pelos duros tempos de guerra enfrentados, cuidaram logo de revogar o permissivo constitucional que tolerava reeleições sucessivas e ilimitadas para, por meio de emenda à Constituição, restringi-las apenas ao segundo mandato.

Aliás, a história sempre ensina. Entre nós, e imprudentemente, a emenda constitucional ao texto promulgado em 1988, aprovada na ânsia ilusória de manter o PSDB pelo menos 20 anos no poder, silencia sobre a questão, o que significa consentir reeleições teoricamente sem limites, quando, entre estas, se cumpra pelo menos um mandato de outro concorrente.

Em outras palavras, reeleito uma vez, o ex-presidente não pode retornar ao cargo. Não sendo assim, os sábios do PSDB poderão ter de competir com o ex-presidente Lula em 2018. Enfatizo o comentário porque considero o sr. Lula e seu partido o maior mal que ameaça o Brasil em futuro próximo.

No quadro de absoluta ausência de lideranças políticas, até o deputado Eduardo Cunha pode renascer e quiçá voltar a presidir a Câmara dos Deputados. Está na rota das obviedades, considerando o sistema eleitoral e partidário que temos e o fácil esquecimento do corpo eleitoral dos profundos danos causados por mandatários infiéis; portanto, não surpreenderá os mais experimentados que o populismo, a incompetência e a mentira dos deslocados do poder retomem o espaço central de que se julgaram donos.

Sou realista: o campo poderá estar aberto para o narcisista Lula. Sua intensa movimentação coincide com o desejo perverso de voltar. Não creio que dele venha qualquer gesto de trégua. Nossa cambiante história é testemunha da persistência desse político cujo verdadeiro compromisso é com a satisfação de seu apetite pela manipulação do poder. Daí, não admitirá qualquer indenização pelos estragos feitos por si e por sua despreparada e incompetente sucessora. Arrasaram o país, que só ressuscitará das cinzas com um “risorgimento”. Enquanto isso, Lula, com os defeitos psíquicos, despreza os adversários. Se aparecerem, serão esmagados. É a lógica da ideologia: o primado é deles (o líder incontestável e seu partido); ao resto, a zurrapa.

Impõe-se evitar a tragédia.

Márcio Garcia Vilela

'Terrir', resposta brasileira ao terrorismo

Terrorismo, óbvio, é coisa séria. Bote sério nisso. As autoridades brasileiras, porém, que levam um olé diário dos PCC's bandeirantes e dos comandos cariocas, fazem lembrar, sob os holofotes bajuladores dos telejornais, o genial subgênero do cinema tupiniquim: o terrir, a mistura de terror com humor. O mestre da parada, o cineasta Ivan Cardoso, que perdoe este pusilânime fã e cronista diante de tão irresponsável comparação. Foi mal, amigo.

Um lobisomem cobiça o ouro olímpico?, indagaria o monstruoso Ivan, diretor deO Segredo da Múmia (1982), entre outras obras-primas. Suspense. Desculpa aí, Brasil Oficial q ue se leva a sério. Só rindo, mas o circo governista, policial, jurídico e midiático montado para caçar esses meninos do WhatsApp, precisa ser mais explicadinho, trocado em miúdos de pedagógicos sarapatéis paulofreirianos. Não convence uma pá de gente, mesmo uns cidadãos assustados que conheço em ambientes familiares. Em matéria de assombração, só o chupa-cabra explica a pátria mameluca!


O mais louco é que, depois da manchete à cabidela —tipo da notícia que vende o sangue de véspera igual ao cacarejo das galinhas que minha mãe matava no Cariri— os argumentos das autoritárias e argutas autoridades pareciam desmentir o perigo: são amadores, não têm conexão real com o Estado Islâmico, não dá para mencionar o grau de risco etc etc etc. Sem se falar na contradição entre o juiz que autorizou o cárcere e os nossos carecas da lei —evidentemente sem o charme do velho Kojak do seriado americano, of course.

E essa história de levar a molecada supostamente terrorista para lugar não-dito e não-sabido? Isso me lembra, caríssimo Ivan Cardoso, não o terrir, pois não tem graça, me lembra o terror —nada virtual ou cinematográfico— dos porões militares. No mínimo um resquício no inconsciente do governo em exercício ou do golpe em andamento, como preferir o generoso leitor deste panfletário colunista.
Pedagogia da esquina

Ali pelo oitavo chope, chegamos à conclusão de que todos os problemas eram insolúveis, disse, me disse certamente, ontem à noite, o amanuense Belmiro. Pobre Belmiro, um desses escravos da burocracia de um escritório do centro. Conheci o sábio Belmiro, graças ao velhíssimo camarada Cyro dos Anjos, outro que bebe conosco aqui na esquina do Príncipe de Mônaco, ai de mim Copacabana.

No que, além do terrorismo diário do Rio de Janeiro, falamos também da chatice olímpica. As tropas, daqui a pouco, nos proíbem de mirar as bundas, Copacabana é farta em bundas de todos os gêneros. A escola do "terrir" sabiamente inclui o sexo, como terceiro elemento —error, humor e sacanagem, por supuesto.

Que triste tem ficado o Rio eternamente sequestrado pelos grandes eventos. Seja a Jornada da Juventude do papa Francisco, o fofo da eucaristia (pense numa cidade cara desde essa época!), seja a Copa do Mundo, ave, seja qualquer onda. E agora só faltava essa ameaça de terrorismo para uma gente que sabe o que é isso desde a Guerra Fria, no mínimo.

Na buena, esse povo cordial brasileiro, incluindo a nossa polícia exterminadora na periferia, já mata mais gente comum todo dia do que quaisquer célula islâmica. Vocês têm certeza que vêm ao nosso país, caros terroristas de verdade?

Xico Sá